COTIDIANO OPINIÃO MENSAGENS RECLAMAÇÕES

Juliana Alves: "O Brasil não valoriza a arte em geral"

Depois de "Ti-ti-ti", atriz estreia no cinema - sem patrocínio - e se prepara para levar a história do longa-metragem aos palco

 

Foto: Marília Neves, enviada a Recife
Juliana Alves faz sua estreia no cinema

Depois de um Big Brother Brasil e várias novelas – a última delas, “Ti-ti-ti” –, Juliana Alves inicia mais uma aventura em sua vida: a estreia no cinema. Contratada da Globo, a atriz de 29 anos recém-completados se reuniu com um grupo de amigas para gravar “Vamos Fazer um Brinde”, que foi exibido pela primeira vez durante nesta terça-feira (03), durante a 15ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual.
 O projeto, feito sem patrocínio, foi escrito pela também atriz Sabrina Rosa e tem planos para virar peça de teatro. “A Sabrina tinha tantos amigos que ela achava talentosos, e tanta gente querendo trabalhar, pessoas com muita energia criativa e muitos de nós precisando trabalhar, que nos convidou e começamos a estudar o texto”, contou Juliana em entrevista ao iG Gente.
Assim como o restante do elenco, ela não recebeu cachê, mas terá participação nos lucros do longa, que conta a história de um grupo de amigas celebrando a virada do ano, com alguns imprevistos e dilemas. “É uma história que deu um filme muito sensível, simples, sem apelos, extremamente verdadeiro”.

Foto: Daniela Nader
Juliana Alves: "a minha vaidade está muito associada a estar trabalhando"
iG: O filme foi gravado em três dias e sem patrocínio. Vocês não tiveram nenhum apoio financeiro?
Juliana Alves: A gente teve um apoio para refeição. Se teve algo a mais do que isso foi muito pouco, que eu nem sei. Fizemos por nós mesmos. Marcamos um dia com o figurinista, apresentaram algumas coisas que tinhamos de assessoria e a gente também contribuiu com coisas de acervo pessoal que achávamos que tinha a ver com o personagem. Por exemplo, o vestido que usei era da minha irmã.
iG: Quais outros problemas vocês enfrentaram no filme em relação a isso?
Juliana Alves: A gente gostaria de ter feito com um pouco mais de calma. Precisaríamos de tranquilidade em termos de produção. O ator no Brasil tem que saber se produzir, porque a gente tem muita dificuldade de conseguir realizar os trabalhos que gostaríamos. Não podemos ficar esperando, então tem que produzir. Por outro lado, às vezes, isso pode desconcentrar um pouco. Pelo nosso entrosamento, a gente conseguiu realizar as cenas de maneira verdadeira, apesar de estarmos ali todas também envolvida com a produção.
iG: Por que você acha que ainda existe esse tipo de problema no Brasil, a falta de patrocínio para trabalhos culturais?
Juliana Alves: O Brasil ainda não acredita muito em seu potencial e não valoriza muito a arte no geral. Acho que melhorou bastante, mas a gente ainda não valoriza. E é uma coisa paradoxal, porque o brasileiro é um povo extremamente criativo, a gente tem vários países dentro do nosso país, várias culturas, uma riqueza muito grande. Tem muitas inspirações e, contraditoriamente, há uma quantidade de pessoas com condições artísticas que não são valorizadas, não aparecem tanto quanto deveriam, e muitas vezes não conseguem compartilhar com o público da forma que deveriam.

Foto: Andrea Rego Barros
Juliana Alves, ao lado do elenco: "A beleza, a gente tem como dar um jeito, dar seus truques. Mas o nosso conhecimento, nossa bagagem, são muito verdadeiros".
iG: O elenco de vocês está sendo muito elogiado pela beleza do grupo. O que você faz para se manter bonita?
Juliana Alves: Eu não tenho feito muita coisa. Quando estou no ar, fazendo alguma novela, tenho uma preocupação maior. Mas a minha vaidade está muito associada a estar trabalhando (risos). Estou muito compenetrada agora em estudar. Isso não tem como manipular e esconder. A beleza, sim, a gente tem como dar um jeito, dar seus truques. Mas o nosso conhecimento, nossa bagagem, ela é muito verdadeira. Mas é lógico que, três vezes na semana eu frequento academia, agora voltei a fazer tratamento de pele, para quando for filmar um próximo trabalho eu estar bem. Mas não é algo que tenho muita preocupação, não.
iG: O que você está estudando? Ainda cursa psicologia?
Juliana Alves: Não, eu amo psicologia. Mas, agora estou fazendo faculdade de teatro. Fiz curso de teatro ao longo da minha vida, mas cursos pontuais. Não tive uma formação acadêmica. Quando terminou “Ti-ti-ti”, eu estava, ao mesmo tempo feliz com o trabalho que eu realizei, mas por outro lado, com uma cobrança muito grande em mim em relação a essa formação. Cheguei a um ponto que eu tive uma necessidade muito grande de superar isso para os próximos trabalhos.
iG: Você foi uma das exceções do Big Brother Brasil que conseguiu deixar o título de ex-BBB e se destacar como atriz. Como foi esse percurso?
Juliana Alves: Cada um tem um caminho, uma história. Desde que me entendo como gente, eu me via artista. Pequena, criança, eu já era artista. É uma coisa que está na alma. Eu fazia teatro amador, era bailarina, tinha até dançado do programa do Faustão por conta das aulas de balé que eu fazia. Mas a televisão foi algo que eu não busquei. O próprio BBB foi uma circunstância. Eu não me inscrevi, porque eu não acreditava muito na carreira artística através da fama. E aí eu fui abordada por produtores do programa e me convidaram para seleção. Quando me falaram que eu tinha sido escolhida, eu fui, mas sem pensar muito nas consequências. E eu não ficava falando que era atriz, porque eu realmente não me sentia. Seria pretensão dizer isso, eu fazia teatro amador. E aí, o BBB me deu uma visibilidade. Precisavam de mim no perfil de um personagem e me chamaram logo depois. Foi assim que a porta de abriu para mim. Se não fosse dessa forma, aconteceria de outra maneira.
iG: Você comentou na coletiva de imprensa do filme que o seu papel em “Ti-ti-ti” era um sonho. Que lembranças você tem da primeira edição da novela?
Juliana Alves: Eu não sonhava com a Clotilde em si. A partir do momento que me vi atriz, eu desejava fazer um personagem totalmente diferente do que eu tinha feito e um personagem desafiador.
iG: E a Clotilde foi desafiadora?
Realmente. Quando eu conheci a Claudia Raia, ela falou que era um grande personagem e um grande desafio para qualquer atriz, seja qual for a bagagem que tiver. Eu, que nunca tinha feito algo parecido, precisei além de procurar entender minha personagem, buscar algo diferente, não ser óbvia. Procurei fugir dos clichês.
 
Foto: Marília Neves, enviada a Recife
Juliana Alves se prepara para levar longa para os palcos

Rapidinhas:
iG: Um motivo de orgulho?
Minha família.
iG: Uma paixão?
A arte.
iG: Um lugar?
Nossa, tenho vários lugares, mas hoje o lugar que estou cultivando é minha casa.
iG: Um sonho?
Tenho vários, mas um que está muito presente é um mundo mais justo. É clichê falar, mas é isso, uma sociedade mais justa e igualitária.
iG: Um medo?
Tenho muitos medos, desde os mais banais, como medo de escuro. Tenho medo de perder pessoas que amo. E um medo que percebi mais recentemente, é de me alienar. Percebo pessoas que conseguem ter sucesso, uma vida bacana, uma vida melhor, e se alienam. Esquecem sua referência. É um medo que, por mais que não tenha a ver com o que faço, eu procuro manter o medo ali presente, porque é uma forma de eu criar uma balança. É um medo que me regula.
iG: Uma lembrança?
Das viagens que fiz, que me acrescentaram muito culturalmente. Pessoas que eu estive em momentos da minha vida, que eu nunca mais vou ver, mas que me marcaram muito e hoje fazem a diferença na minha vida através dessas viagens.
iG: Uma mania?
Tenho mania de toda hora conferir as coisas na bolsa. Como sou muito dispersa, esquecida, eu acabei desenvolvendo essa mania. Não chega a ser doidinha, não chega a me prejudicar, mas é uma mania esquisita.
iG: Um arrependimento?
Confiar cegamente. Tudo que é demais, por melhor que seja a intenção, pode trazer prejuízos, não só para você, mas para as pessoas que te cercam.
iG: Um homem?
Meu pai.
iG: Uma mulher?
Minha mãe. Não tem como ser diferente. Gostaria de ser menos óbvia, mas eles são referências muito fortes na minha vida. Com seus defeitos e qualidades.
iG: E brincando um pouco com o filme, um brinde?
Um brinde à liberdade, ao respeito, à dignidade, ao trabalho, à cultura.